Nesta época em que todos falamos de vírus, quero fazer uma modesta advertência para um, muito mais antigo do que o dito “vírus chinês”: me refiro ao vírus grego latente ou ativo em muitos programas educativos atuais.
Os antigos gregos desenvolveram um ideal educativo: formar cidadãos, isto é, indivíduos aptos para o governo da Pólis. Tais homens deveriam congregar um amplo elenco de habilidades e competências: seriam destros em geometria e álgebra, versados em Homero, hábeis na ginástica, na retórica e na filosofia. E não bastava isso: os estudantes deveriam saber governar a si próprios, dominando suas paixões, e levando a Inteligência às suas mais altas possibilidades. Em uma palavra, a educação grega aspirava formar “aristós”, homens cheios de “areté”, vocábulo que costumamos traduzir por virtude, força, capacidade.
É, sob muitos aspectos, um belo projeto educativo, que ainda hoje nos encanta em muitos de seus aspectos. Mas…
Mas há nesse belo projeto um vírus incubado: a ideia implícita de que o homem deve ser moldado para servir o Estado, e que deve ser forjado exclusivamente no interesse público, sem considerar sua vocação pessoal.
Ao longo dos séculos, esse vírus foi originando uma infinidade de variantes, todas elas partindo do erro de que, ao se considerar os fins da educação, deve-se primeiro olhar para o que a coletividade necessita ou o poder público deseja, e depois encaminhar ou mesmo adestrar as crianças de acordo com esse objetivo. Tal foi – e ainda é – o planejamento educativo dos totalitarismos de todas as matizes, de todos os tempos e de todos os lugares, que às vezes toma nomes como “educação utilitária”, ou “planejamento estatal da educação”: o Estado decide o que precisa, e torce a educação para que atenda esse desígnio, sem pensar na pessoa, ou postergando a pessoa para um segundo plano.
Fonte: Professor Evandro Faustino, Colégio Caminhos e Colinas.