Formar as crianças na virtude da amizade

Alunas do colégio colinas na sala de laboratório

Há modos mais elevados de ser feliz do que simplesmente fugindo da dor, ou buscando o pequeno triunfo a curto prazo. Um desses modos é cultivar uma verdadeira amizade. Mas amizade não é algo inato, e não acontece sem esforço. É preciso conquistá-la, e é preciso mantê-la.

A primeira característica da amizade é sua durabilidade. As amizades que se rompem com facilidade não são autênticas, mas simples solidariedades. Os amigos continuam amigos no desacordo. Não faz parte da amizade estar de acordo em tudo, isso é impossível. Discrepar é saudável, quando se mantém o diálogo. Porque para o conhecimento da realidade não basta o olhar de um. Um só par de olhos humanos é muito pouco para abarcar todas as verdades que contém qualquer minúscula parte do Ser. Aquilo que eu vejo, e que é certo, pode ser ampliado por outros. Posso e devo aceitar o enriquecimento dos olhares dos demais. Nesse sentido a amizade é um meio de ampliar minha visão, de afastar preconceitos, de crescer no conhecimento científico, de ter um encontro pessoal com a verdade.

O segundo elemento da amizade é o caráter especial do diálogo que a constitui. A amizade se nota no dizer sem reticências nem dissimulações: o amigo é a pessoa com a qual se pensa alto, com a qual se fala sinceramente, aquele com quem somos sinceros. A amizade é âmbito de intimidade. O amigo frequenta nossa casa, o lugar onde somos por fora como por dentro. Não é uma visita. Faz parte de nosso lar.

O terceiro elemento da amizade é o crescimento recíproco. A amizade mobiliza, alenta, entusiasma. Hoje se alude a isso com o termo “sinergia”: uma concorrência de ímpetos onde um amigo estimula o outro a crescer. A maior sinergia é ser amigos.

O quarto elemento é seu caráter pessoal. Apenas pessoas podem ser amigas. A pessoa é o único ser que pode dar sem perder. A pessoa é fonte de realidade. Quando dá, não perde, mas ganha, e se expressa a si mesma. A pessoa aporta, suporta, sustenta, serve de fundamento para as realidades a que dá lugar. A pessoa é fonte de ser.

A doação é parte irrenunciável da amizade: quem presenteia algo, não espera nada em troca. O dom é gratuito. A amizade dá o melhor que tem, desinteressadamente. Por isso, o mais oposto da amizade é a instrumentalização do outro.

Uma escola – como a nossa – que realmente deseja formar seus alunos e alunas na virtude da amizade, precisa saber ver cada um como uma pessoa capaz de doar de si, e de aprender com os outros. Se a escola como algumas ver seus alunos apenas como indivíduos que devem ser treinados a “passar por cima” dos outros, não estará  formando homens e mulheres livres e solidários, mas predadores egoístas.

Fonte: Evandro Faustino, Colégio Caminhos e Colinas.

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